Diretor: 
João Pega
Periodicidade: 
Diária

Professores & Enfermeiros


tags: Professores, Enfermeiros, Mauro Tomaz Categorias: Opinião quarta, 15 maio 2019

2011 foi o ano em que Passos Coelho, o Primeiro-Ministro de então, lançou o apelo à emigração aos professores desempregados e a todos os jovens que procuravam desesperadamente por um posto de trabalho. Recordo-o agora, porque é bom não esquecer. Hoje, os tempos que correm são também de grande fricção entre os sindicatos que representam a classe docente e a respectiva tutela. Ano de eleições legislativas é imediatamente sinónimo de ano de reivindicações sociais, já se sabe. Da minha parte, sou e serei sempre pelos direitos dos trabalhadores e pela dignidade do trabalho, até porque a matriz ideológica que arreigadamente defendo não permitiria nunca outra posição, mas como em tudo na vida deve imperar o bom senso. A recente greve cirúrgica dos enfermeiros, que eu qualificaria de assassina (literalmente!), foi um claro exemplo da mais estapafúrdia insensatez revelada pela representação de uma inteira classe, na figura da respectiva Bastonária que, diga-se, nunca teve problemas de consciência em afirmar despudoradamente que a respectiva greve potenciava “as mortes evitáveis de doentes”. Isto é a falta do tal bom senso nas negociações que referi, gritante e criminosa, contra a qual os nossos governantes se devem de imediato insurgir de forma correctiva e com grande autoridade. As causas pelas quais os profissionais se batem até podem ser muito justas e fundamentadas, mas não podemos aceitar todo o tipo de meios para se atingir um determinado fim. Os enfermeiros têm uma base salarial manifestamente escassa para a relevância da sua função e por toda a aposta que realizaram na sua formação, mas as suas reivindicações simplesmente não são realistas, com grandes aumentos de ordenados e acentuadas reduções na idade de reforma. Por mais justas que essas alterações se verificassem, o País não as pode comportar em absoluto, apesar da grande recuperação económica que tem vindo a ser conseguida. Até porque agora não podemos deitar tudo a perder!

O irredutível combate que os professores têm travado pela recuperação integral do tempo de serviço também me parece justo e fundamentado, mas manifestamente insensato, o que até pode parecer uma contradição, mas não o é. Não há margem de manobra orçamental para uma despesa desta envergadura, além de que não se podem nem devem abrir regimes de excepção. Com o precedente aberto aos professores, outras classes rapidamente reivindicariam o mesmo. Tem que haver seriedade e responsabilidade no exercício de cargos públicos, o que infelizmente significa que não pode haver tudo para toda a gente. No pós-crise, tem que haver justiça e equidade social. Se não é possível recuperarem-se os direitos de todos, não podemos abrir uma excepção só para alguns. Além de sensato, isto parece-me lógico, até. Tal como os enfermeiros, sou da opinião que os professores estão muito mal representados pelo líder do seu principal sindicato. A acirrada defesa deste cinge-se somente aos interesses dos profissionais que integram a carreira docente, ignorando por completo as necessidades dos milhares e milhares de professores contratados e em situação precária, por esse país fora. Já se sabe que a dor de fígado dos outros é sempre muito fácil de suportar, mas lá está, deve sempre imperar o bom senso entre as lideranças, sejam elas quais forem, além de que não se pode querer liderar apenas uma parte de uma classe inteira que se representa. Parece-me que há outros problemas bem mais importantes para resolver à classe, como as colocações de profissionais a centenas de quilómetros da sua área de residência.

PUB

Tanto professores como enfermeiros deviam ganhar mais, muito mais. Todos eles, sem excepção. A sociedade actual em que vivemos não é justa, como sabemos, mas acredito que estamos no bom caminho para uma melhor, e acima de tudo não podemos deitar a perder um esforço de anos e anos. Aos mais indignados: têm saudades da direita? Recordem-se sempre do que é bom não esquecer. Em outubro temos eleições. Aguardemos pelos respectivos programas.