Filha do Luso. Apaixonada pelos dois filhos, Carminho e Enzo. Casada com o fado desde 2008. Edna Costa é a “fadista da terra” que se prepara para lançar o segundo álbum intitulado “Sonhos”. O palco da apresentação do novo trabalho será o Cineteatro Municipal Messias, no dia 9 de dezembro, pelas 18h. O Jornal da Mealhada quis antecipar-se e conversou com Edna Costa sobre as suas referências musicais, o amor que tem pelo fado, quais as novidades do novo CD e as principais diferenças em relação ao primeiro…
Jornal da Mealhada – Em 2014 lançaste o álbum “Saudade”, agora, no dia 9 de dezembro, preparas-te para lançar o teu segundo trabalho intitulado “Sonhos”. Os títulos dos teus CD’s refletem o teu estado de espírito?
Edna Costa – O primeiro trabalho foi muito saudosista, também era um bocadinho reflexo daquilo que eu estava a viver na altura. Depois, durante estes anos, fui sonhando sempre com o próximo álbum.
Há dois anos, veio um primo meu do Brasil, que é poeta e que se apaixonou completamente pelo nosso país, pela nossa cultura, e começou a escrever letras para mim. Nós começámos os dois a sonhar um álbum que tivesse músicas originais, com letras dele, e que não fugisse do fado. Fomos compondo, juntando também o fado tradicional, e eu não tive nenhuma dúvida que este álbum se chamaria “Sonhos”, apesar de não haver nenhuma música com esse nome, o título representa os meus sonhos e os do poeta brasileiro.
JM – Entre todos os teus fados existe algum que te defina?
EC – Neste momento…eu acho que não há um fado só que me defina. Se me perguntasses isso há uns tempos era o “Saudade”, sem dúvida. Mas neste momento não. A minha vida mudou e eu reconheço-me mais numa mensagem de esperança, de confiança de que o futuro pode ser bom e diferente.
JM – O single do novo trabalho discográfico chama-se “Desde que a nau partiu”. Qual o motivo desta escolha?
EC – Essa música foi escolhida mais pelos outros músicos do que por mim. Porquê? Porque fui eu que fiz a música e nós não valorizamos o nosso trabalho… Achamos sempre que não tem qualidade. E os meus músicos, quando estávamos a decidir qual é que seria o single, todos disseram: “É a tua música”.
A letra é do Rogério, do meu primo brasileiro, e eu acho que tanto pode simbolizar as nossas famílias, que partiram, por exemplo para o Brasil, como também pode simbolizar, metaforicamente, um bocadinho de nós. Um amor que partiu…ou que partiu, mas que volta…
JM – No teu novo trabalho qual é o fado que exige mais de ti a nível emocional?
EC – O meu novo álbum tem 11 fados, cinco originais e o resto é fado tradicional, mas há uma música, escrita pelo Rogério, que me dói cantar… “Se o meu tempo parar”.
JM – Há algum verso desse fado que te toque de forma especial?
EC – Sim, mesmo na parte final. É muito forte para mim… “Se o meu tempo parar/olha para o céu,/ele te dirá/onde estiver eu vou-te amar./O silêncio é a minha voz,/o tempo é dentro de nós”.
JM – Entraste para o mundo da música em 1997, mas o fado nem sempre fez parte da tua vida. Foi apenas em 2008 que “casaste” com ele. Porque é que o escolheste?
EC – Em 2008, eu estava num projeto onde me solicitaram que cantasse um fado e eu cantei o fado, mas doía-me tanto, doía-me o corpo, doía-me tudo! E eu dizia: “Eu quando for velha vou cantar fado, agora não”. E eles diziam: “Não, quando fores velha não, canta é agora”.
Entretanto, comecei a desenhar esse projeto para mim e em 2008 arranquei com o meu fado, o meu projeto. Hoje, atuo com outras bandas quando sou convidada, mas, sem dúvida, a minha música é o fado.
JM – A nível de realização, existe uma grande diferença no teu percurso musical antes e depois de 2008?
EC – Sim, não tem comparação. Antes de 2008, cantava todo o tipo de música, debitava versos, simplesmente. Depois, de repente, vejo-me num tipo de música que mexe com todo o meu corpo, porque eu estou inteira no fado.
JM – A nível nacional, quem é o teu fadista de eleição?
EC - A minha fadista de eleição, viva, é a Mariza. Se falarmos dos que já partiram, é a Amália. Aliás, em casa eu só ouço Amália. Amália, Maria Teresa Noronha, Fernanda Maria… Eu ouço os que já partiram…São as minhas referências. Eu não sigo o fado das novas fadistas. Vou a concertos, gosto, mas não os ouço, porque não quero ganhar tiques de ninguém. Quer ser eu.
JM – Quando abraçaste a carreira musical achavas que o facto de residires no Luso seria um entrave para alcançares os teus sonhos?
EC – Achava e continuo a achar. Nós aqui na Região Centro estamos num sítio um bocado ingrato nesse sentido. Não há editoras…quem quer singrar ou quem quer correr atrás dos seus sonhos tem que o fazer sozinho, que é o meu caso.
JM – Disseste que “quem quer correr atrás dos seus sonhos tem que o fazer sozinha”. Nunca tiveste apoios financeiros na produção dos teus álbuns?
EC – Não, é tudo à minha conta. Agora, tive apoio da Câmara (Municipal da Mealhada) na cedência do espaço (Cineteatro Municipal Messias) e na divulgação (do lançamento do CD “Sonhos”); da Junta de Freguesia (do Luso), na divulgação, com os cartazes; e da Fundação Mata do Bussaco, que me deixou tirar as fotografias para o álbum na mata. Portanto, eu tenho apoio a nível logístico, mas financeiro não, é tudo à minha conta.
JM – Sentes que o investimento nos dois álbuns tem contribuído para o reconhecimento do teu trabalho?
EC – Sim, sim, sim. Eu sou muito acarinhada, muito, muito, muito. Eu saio à rua e os velhotes abraçam-me (risos). E eu gosto disso. Eu vou à rua e fico feliz, porque sinto sempre um carinho por parte das pessoas.
JM – Nascida e criada no Luso. O que é que esta vila significa para ti?
EC – O Luso…é assim…eu costumo dizer que já não saio do Luso, só para o caixão (risos). Eu já vivi em alguns sítios, como sou professora…já fui colocada no Alentejo, já estive na Margem Sul…Já vivi em alguns sítios também por amores…Mas não há como…Eu chego ali à reta, daqui da Mealhada para o Luso, e o ar é diferente, eu sinto-me diferente…Eu adoro o Luso.
JM – Atendendo à tua ligação ao Luso, lançaste o teu primeiro trabalho no Casino do Luso. A escolha da Mealhada para o lançamento do segundo álbum deve-se a alguma razão em específico?
EC – Achei que tinha que sair um bocadinho do Luso e mostrar o meu trabalho ao concelho, por isso decidi pedir apoio à Câmara (Municipal da Mealhada) nesse sentido. Penso que devo alargar um bocadinho o espectro e, no fundo, o Luso é no concelho da Mealhada.
JM – O que é que as pessoas podem esperar do teu espetáculo no próximo dia 9 de dezembro?
EC – Em princípio, só vou cantar fados do álbum novo. Tenho uma surpresa preparada, que tem que ver com um grande fadista que escreveu para mim neste álbum e no primeiro, que é o José Guerreiro. Para além disso, neste novo álbum, tenho algo de especial…tenho piano e percussão. Considero que é um álbum mais completo e que também segue, um pouco, a nova tendência do fado, para chegar a outros mercados.
JM – Qual é o fado que, não sendo teu, te assentava como uma luva?
EC – Identifico-me muito com o “Melhor de Mim” da Mariza. Acho que tem uma mensagem lindíssima… Eu identifico-me muito com a dor e com a saudade, gosto muito de cantar essas músicas, mas eu, neste momento, estou numa outra fase. Uma fase de esperança, porque acho que “o melhor de mim está para chegar…”