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O mar e o gosto pelas atividades náuticas


tags: Atividades, Náuticas, Virgílio Brêda Categorias: Opinião quarta, 15 maio 2019

Poucas pessoas têm oportunidade na vida de se dedicarem a essas atividades, a não ser os que fazem delas modo de vida, como os pescadores, marinheiros, etc.

Alguns, mesmo sem grandes meios, conseguem arranjar disponibilidade e tempo para construir um pequeno barco, em contraplacado marítimo à vela, com pouco mais de três metros, cujas plantas se vendem nas casas da especialidade, para fabricar em casa com paciência, nas horas vagas, e que dá para pôr à prova a sua habilidade e para navegar em rios, barragens e enseadas com mar calmo e até para entrar em competições, podendo ser transportado no tejadilho do carro ou num pequeno atrelado.

É pouco para quem gosta do mar, mas o possível para a maioria das pessoas. Comigo aconteceu o mesmo, só quando tive a vida estabilizada e já com idade avançada surgiu uma oportunidade e adquiri um barco de mar em segunda mão, que são baratos.

Foi assim! No final duma consulta, um paciente meu, também idoso, sem doença grave e que vinha acompanhado dum irmão gémeo, calhou em conversa dizer que andavam a receber instrução de náutica à noite em sua casa, administrada por um oficial da Marinha, amigo deles.

Achei interessante e eles então convidaram-me a assistir às aulas. Aceitei. Daí em diante, com eles, pessoas simpaticíssimas, tudo foi fácil: tirámos todos os cursos de náutica desportiva.

Com exames de marinheiro; vela e motor na Capitania da Figueira da Foz; o de patrão de costa na Capitania da Nazaré e o último, mais complicado, em Lisboa, na Marinha de Guerra.

Deslocávamo-nos à tardinha de comboio direto para receber instrução na Marinha e regressávamos à noite no alfa para Coimbra.

No final da instrução, que durou meses, tivemos uma prova prática e um exame final, tendo intercalado uma viagem à ilha da Madeira no Creola, belo navio à vela e motor, tendo enfrentado mar bravo, com ondas altíssimas, o que motivou muitos episódios, sobretudo à hora das refeições, onde a comida saltava dum prato para o do outro companheiro do lado e… comia-se tudo.

Os instruendos eram todos idosos. Foi interessante. Assim como foram interessantes as viagens que fazíamos no comboio, em que aproveitávamos para fazer uma revisão das aulas teóricas com muita trigonometria esférica, difícil, de que acabei por gostar.

Nas viagens de comboio alguns passageiros, velhos marinheiros, ao ouvirem a conversa pediam para participar.

Duma vez, o comandante de um bacalhoeiro contou que no regresso da Terra Nova surgiu subitamente uma tempestade e a tripulação não teve tempo de tirar as velas, sendo obrigado a navegar com todo o pano na mesma direção do vento, isto é, a correr com o tempo, com o veleiro carregado. Teve sorte o barco aguentou-se e chegou ao destino com a carga completa e a tripulação viva.

No final, como é hábito entre eles, deram muitas graças a Deus.