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Crónicas Locais - 266 - O PROFESSOR


tags: Ferraz da Silva, Governo, Parlamento Categorias: Opinião quarta, 15 maio 2019

Quando os governos gerem o interesse partidário e as suas clientelas, a barca toma o rumo dos maus pilotos e este “imbróglio” da contagem do tempo dos professores não pelo tempo que trabalharam, mas pelo tempo que os políticos querem impor, revela um comportamento absolutamente irresponsável e de total falta de respeito para com esta classe e igualmente para todo o funcionalismo que está nas mesmas condições.

Começamos pelo simples facto de a geringonça governativa, eleita legitimamente por votação do Parlamento, se recusar agora a cumprir as decisões legitimas do mesmo Parlamento no caso dos professores, diabolizando a classe num discurso que vomita ódio contra os professores, o que me parece deprimente na boca dum primeiro ministro. Discurso que atinge a classe e todo o funcionalismo, pretendendo matar duma cajadada uma série de coelhos.

Em segundo lugar, o mesmo governo, conta o tempo de serviço por inteiro aos professores insulares, Açores e Madeira, colocando os professores do continente numa grelha de inferiores na escala remuneratória e da contabilização do tempo. O governo autorizou ou não foi capaz de impor o mesmo critério nas ilhas? Ou é uma questão de compadrio político? Será que o primeiro ministro, por ser goês, sofre de ideias discriminatórias? Ou o país é finalmente de bananeiros e Césares?

Em terceiro lugar, a situação remuneratória, tempos de serviço e progressões, resultaram de decisões dum fulano chamado Cavaco Silva que aumentou rendimentos e beneficiou as carreiras quando o país não criava riqueza suficiente para suportar os custos, ao qual se seguiu o filantrópico cidadão Guterres, gestor por bolsa alheia que gastou fortunas a doutorar professores através de ações de formação opacas, que, em grande parte dos casos, serviu para os mandar para a reforma sem sequer voltarem ao ensino, e assim atingirem o topo dum escalão para o qual não descontaram.

Estas ações de boa vontade num país de couves de ir ao ar e grelos de nabo, serviram empresas e formadores bem pagos, mas não resultaram senão em despesa e demagogia balofa sem estratégia e futuro. Mas o professor não teve culpa, fez o que os sucessivos sábios da política e do ministério da educação mandaram fazer por razões de mera estatística e interesses nunca apurados, mas não do país. Os protagonistas das dádivas, das promoções, das progressões e das carreiras, são hoje os mesmos que as recusam, as lontras dos partidos que dão e tiram a bel prazer. E isto porque a situação mudou e o que lhes interessa atualmente é dar o dito por não dito a favor dos seus interesses momentâneos e todo o resto são cantigas de retórica grosseira.

Disse numa recente crónica que o governo é o Centeno e repito, o governo é o Centeno e o Sr. Costa não passa da sua correia de transmissão. Porém Centeno, que é financeiro, brilha a defender a sua área e como tal usa um critério diferente quando se trata de banqueiros, de economistas, administradores, investidores de chinela que, ludibriando alguns apêndices na banca, alguns de colocação politica propositadamente para empréstimos sem garantias, garantias volúveis ou para comprar ações desvalorizáveis ou pinturas e outros bens perecíveis que servem a espertos bolsistas de gabarito duvidoso. Todas essas panóplias de experts dos mercados financeiros ficam fora das dívidas e das grades, o professor, porém, que ensina e educa os nossos filhos, porque procura defender os seus direitos, é perseguido e insultado por políticos e por uma população desinformada a quem a baixa estatura das elites nacionais acena com a mentira ou fake news. O professor, bombo eleito desta festa de indignidade, é a primeira chave dum amanhã do funcionalismo público e do emprego privado. E nem está em causa a forma de pagamento, que deve ser discutida e distribuída por anos conforme as disponibilidades orçamentais, mas apenas uma decisão justa e legítima dum Parlamento eleito em eleições ditas livres.

Luso, maio, 2019