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Alguns aspetos à Antropologia Cultural da região da Serra do Bussaco (II Parte)


tags: História, Alice Godinho Rodrigues Categorias: Opinião quarta, 15 maio 2019

Bussaco, caminho de muitos povos: Suevos, Alanos, Lusitanos, Romanos, Visigodos, pertencentes aos Godos, Ostrogodos, considerados os Godos brilhantes, e muitos outros…foram objeto do estudo antropológico que apresentamos.

Desde o século III a.C. os Visigodos estavam em contacto com a civilização de Roma. Dois séculos mais tarde, fixaram-se na Península Ibérica convertendo-se ao Cristianismo, sob o governo de Recaredo, e a partir daí foram agentes catalisadores do processo de romanização da Península Ibérica.

Não encontramos vestígios arqueológicos dignos de registo na região, entre o Mondego e o Vouga, no entanto, determinadas fontes literárias apresentam-nos referências ao arco em ferradura, pilastras, colunas, frisos e, sobretudo, uma decoração vegetalista. Era muito rara a figura humana. Um dos exemplares da grande riqueza da arte românica, o Mosaico, entrou em decadência, durante o período visigótico.

No capítulo anterior apresentámos referências ao Druidismo (religião céltica). Encontramos agora a sua substituição pelo Cristianismo através de fontes encontradas que nos revelam a existência do alvorecer do Cristianismo. Referimos o Livro de Job (XL-XLIII), apresentado por S. Jerónimo. Consideramo-lo como sendo o Livro do Antigo Testamento que se impôs como um dos mais elevados monumentos literários da Bíblia, tendo sido dos mais importantes para a História da Teologia, da Filosofia e da Cultura até aos dias de hoje. Ficou a ser como um verdadeiro marco milenário da tomada de consciência dos dramas da experiência humana.

Muitos monges, vindos da Grã-Bretanha, ao tempo de S. Bonifácio, recorreram à Península Ibérica para levar a uma vida ascética.

O martírio ocupava o primeiro lugar na manifestação da Santidade da Igreja. Aí temos a proteção das Santas Padroeiras que se encontram pelas aldeias da região: Santa Cristina; na Pampilhosa temos a Santa Marinha, que nos parece saindo de um monstro, um dragão.

O dragão aparece atestado em diversas fontes, ligado à força das águas. Nas procissões das ladainhas, frequentes nos nossos campos, apareciam os dragões processionais: consistiam num dragão feito em papel com a “goela” escancarada para o povo lhe deitar frutos e bolos.

Estas procissões integravam-se em festividades folclóricas, existentes em pequenos povoados rurais, dedicados sobretudo à agro-pastorícia.

Nesta região, não encontramos restos dos santuários construídos, no entanto ousamos atribui-los ao povo visigótico, que permaneceu nestas paragens.

Referimo-nos ao Bussaco, nomeadamente, pela importância religiosa das pontes – estavam associadas ao significado simbólico da água (o fluído do batismo) – exemplificamos com a povoação do Pego do Peixe, freguesia da Vacariça, concelho da Mealhada. Nesta povoação, o povo numa ponte em madeira, pescava o peixe que cozinhava de acordo com uma receita visigótica, também executada pelos romanos – o GARUM – condimento de peixe que levou ao fabrico de ânforas para o seu transporte – apareceu na vila romana da Vimieira (Mealhada) o registo da marca de cerâmica MAKRA.

Lamentamos o facto da arqueologia relativa à vila romana da Vimieira não se ter traduzido em elementos positivos para o estudo da romanização do concelho da Mealhada, dado que culturalmente era absolutamente necessário para a sua conceptualização.

(Continua)