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“O casalinho mais bonito da Mealhada”


tags: Mealhada Categorias: Região quarta, 12 junho 2019

Porque amanhã se celebra o Dia de Santo António, santo casamenteiro, o Jornal da Mealhada dá a conhecer a história de António e Isilda, marido e mulher desde 1954.

António Jesus Matos e Isilda Freitas Santos, de 88 anos, conheceram-se num baile, na sede do Sport Clube de Coselhas, em Coimbra. Tinham 14 anos. António convidou Isilda para dançar, a mãe da jovem supervisionou os passos e, no final do baile, António, um cavalheiro à moda antiga, acompanhou as duas a casa para, estrategicamente, ficar a “saber a morada” da pretendente. “Foi amor à primeira vista”, recorda António, que achou a jovem “bonitinha”, “pequenina” e boa dançarina. Desde esse dia, passou a visitá-la com regularidade, primeiro às escondidas, mas depois com o conhecimento dos pais de Isilda. A jovem também gostou logo de António, que viria a ser o primeiro e único namorado: era “bonitinho, simpático, respeitador e dançava bem”. O primeiro beijo partiu de Isilda. Segundo António, “ela era mais atrevida do que eu”. O namoro durou nove anos e deu em casamento – oficializado a 31 de outubro de 1954 – porque o pai da noiva, que “exigia muito respeito”, consentiu. “Foi o dia mais feliz das nossas vidas”. Isilda e António comemoram este ano as “Bodas de Pérola Negra” (65 anos).

A vida a dois “não foi fácil”. António era o sustento da casa: trabalhou 13 anos na Alfaiataria Furtado, em Coimbra, e 25 como encarregado de armazém da SONAE. Isilda cuidava da casa e do filho, que faleceu com 36 anos por doença. Este foi (“e é”) o momento mais difícil que viveram. “Fomos buscar forças ao nosso neto, que por acaso é a cara do pai”, descreve António. O filho era “fantástico” e o neto, “que já nos deu duas bisnetas lindas”, é “maravilhoso”. “Foi por causa dele que viemos viver para a Mealhada há cinco anos. Ele preocupa-se muito connosco e quer que estejamos perto dele”, explica o avô.

 

“Hoje o amor é esquisito”

António, que Isilda trata por “Nito”, e Isilda, que António chama de “filha”, vivem no centro da Mealhada. Todos os dias saem para almoçar, jantar ou simplesmente para tomar café. António não dispensa fato e gravata. Isilda pinta os lábios e sai sempre “muito arranjadinha”, diz o marido, que a considera “vaidosa” e também “ciumenta” – “não gosta nada que eu olhe para uma mulher bonita”. Em dias de sol, é normal vê-los a passear de mãos dadas pelo Parque da Cidade. “Uma vez, ouvimos dizer ‘lá vai o casalinho mais bonito da Mealhada’”, recorda António, orgulhosamente. Nestes passeios, António não gosta de ouvir “as muitas asneiras que os mais jovens dizem. Fico envergonhado”. Outra coisa que incomoda o “Nito” de Isilda é “o casa e descasa” dos tempos que correm: “troca-se de marido e de mulher com muita facilidade. Hoje em dia, o amor é esquisito, é um amor às três pancadas. As pessoas casam-se sem se conhecerem bem e depois corre mal. Eu quando casei com a Isilda, conhecia-a muito bem, sabia que era uma mulher às direitas”.

“Ainda hoje de manhã a Isilda me perguntou ‘Ó Nito, tu gostas de mim?’. Eu disse-lhe que sim e trocámos um beijo. Apesar de todos os problemas e das pequenas zangas que vamos tendo no dia-a-dia mas que passam rapidamente – afinal, ‘casa que não é ralhada não é governada’ – , somos muito unidos, somos os melhores amigos e somos felizes. Ainda namoramos e brincamos muito um com o outro”, conta António, tendo Isilda ao lado a confirmar a veracidade da informação com um sorriso. “Deus queira que seja eu o primeiro a morrer. Se for ela, eu vou logo atrás. Já não sei viver sem ela”.