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Crónica do Padre Rodolfo Leite: "Santa paciência…!"


tags: Padre Rodolfo Leite, Mealhada Categorias: Opinião quarta, 24 julho 2019

Um dia destes, ao encontrar uma pessoa de passagem e perguntando-lhe como estava, dizia-me, num tom irritadiço:

– Ando sem paciência! Mesmo nas férias, não tive paciência. Não sei a razão, pois estava sossegado, sem nada a importunar. Não percebo…! Se calhar é da minha cabeça! Que acha?

Respondi-lhe com um sorriso:

– O problema não é da cabeça, mas do coração! É aí que nasce a virtude da paciência!

Despedimo-nos e cada um tomou o seu caminho.

Mais tarde, fiquei a refletir sobre o ter, ou não ter, paciência. Com efeito, a paciência é uma virtude humana. E, nestes tempos em que andamos todos a correr de um lado para o outro, para chegar sempre tarde, em que tudo é urgente, esta virtude, a da paciência, é muito, mesmo muito, muitíssimo importante. Tanto assim que, se alguém vier a perder a paciência, não lhe resta outro remédio se não ter de continuar a ter paciência, muita paciência. Por isso, não nos esqueçamos: tenhamos paciência mesmo quando temos pressa e a irritante paciência dos outros nos faz secar a nossa...!

A paciência é importante na família, no trânsito, no emprego, na escola, no hospital, no lar, na doença, na repartição pública, nas bizantinices ou chinesices em que, por vezes, nos ocupamos, no ter de ouvir este ou aquele, na pesca e na caça, no estar a ver o futebol do clube de coração ao lado de um amigo adepto do clube adversário, no ter de suportar os anúncios num telejornal que abusa dos ouvintes ou só dá notícias de faca e alguidar, de desgraças.

A paciência é importante aqui, acolá, mais além, em toda a parte e diante de qualquer incómodo ou situação. É a virtude da maturidade, do autocontrolo, a virtude de quem tem a capacidade de amar, de perdoar, de suportar as fraquezas dos outros. É a nobreza de quem espera, de quem crê, de quem reza, de quem sofre, de quem perde, de quem privilegia a paz e a tolerância, a sã convivência e a educação.

É a sabedoria de quem é capaz de engolir em seco para não responder ao chefe, de quem tem de engolir sapos para aguentar desavenças ou ouvir barbaridades. É a sabedoria que recompensa, resolve conflitos, desarma. Quando existe, ela permite contar, pelo menos até 10 e devagar, antes de dar uma qualquer resposta a quem, sem razão nem estilo, nos faz saltar a tampa. Para ter esta capacidade de suportar todas as contrariedades, dissabores e infelicidades com verdadeiro “fair play”, é preciso, de facto, ter uma paciência de Job ou de santo, como se costuma dizer.

Para os cristãos, todas as virtudes humanas “são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e guiam o nosso procedimento segundo a razão e a fé. Conferem facilidade, domínio e alegria para se levar uma vida moralmente boa”.

Mas, ao falar da virtude humana da paciência, não podemos esquecer outras, fundamentais ao nosso viver de todos os dias: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança, a fé, a esperança e a caridade. Claro que as virtudes são “adquiridas pela educação, por atos deliberados e por uma sempre renovada perseverança no esforço. São purificadas e elevadas pela graça divina. Com a ajuda de Deus, forjam o caráter e facilitam a prática do bem”. Elas são como que a cortesia do coração.

Fomentar a cultura da paciência é sempre um belo exercício de paciência...! Neste tempo de férias, é saudável apreciar a natureza e dela tirar conclusões! A natureza não se aborrece de esperar, é paciente. Porque é paciente, também não se cansa de dar muitos e variados frutos, e muito bons, e muito apreciados, e para todos. Todos usufruem da paciência da natureza, ela é mãe.

Por fim, contemplemos o “saber do povo”, quando diz “a paciência excede a sapiência”!