Receita para um poema de Amor

Um comprimento expressivo de sinceros sorrisos
Todos quantos forem precisos
Uma taça bem cheia de compreensão
Uma malga das grandes de bom entendimento
Durante todo o processo, que reine a educação
Fica dispensado qualquer laivo de desconfiança
E que nunca falte uma grande dose de sentimento
Quatro lábios disponíveis para se beijarem
Duas línguas ávidas de sensações
A forma tem de ser bem barrada com ternura
Para nela caberem harmoniosamente
Carícias que são delícias
Meiguices que não são tolices
Afagos que são bons tragos
Quatro mãos desejosas de sentir
Quatro pernas ansiosas por se entrelaçar
Só assim o amor tem uma boa cozedura
Miminhos espalhados por todo o lado
Carinhos recíprocos sem limite demarcado
Montes de afagos meigos e ternos
O valor desta receita cresce ao compasso
Da intensidade com que for dado cada abraço
E em cada abraço, quanto maior o aperto
Maior será nesta receita, o seu acerto
Dois corpos unidos para um final feliz
Que se celebre o amor como Deus sempre quis
As palavras proferidas devem ser românticas
E para que o preparado tenha um bom augúrio
É preciso que haja êxtase em cada murmúrio
Com esta massa fazem-se coisas incríveis
Desde que os dois corações estejam disponíveis
Finalmente quando a forma entrar no forno
Com todo o carinho, com toda a meiguice e com todo o adorno
Deixar cozer com lentidão
Cozer, cozer, cozer sempre até à exaustão
Nove meses mais tarde aparecerá o resultado
Desta magnífica receita, deste doce preparado
Delicado e ao mesmo tempo tão ternurento
E que nunca haja lugar a qualquer lamento
Nesta receita para um poema de amor