Entre a moral e um palco para vaidades
Longe de constituir mera exceção, este desvio do bem comum em favor de interesses particulares manifesta-se com frequência desconcertante.
Muitos políticos que, antes de alcançarem o poder, proclamam com veemência a recusa de recorrer a recursos públicos para benefício próprio acabam, uma vez investidos em cargos de autoridade, por ceder à tentação que outrora condenaram. Longe de constituir mera exceção, este desvio do bem comum em favor de interesses particulares manifesta-se com frequência desconcertante. Atravessa partidos, geografias e sistemas; revela as vulnerabilidades inerentes à natureza humana.A História e a literatura atestam que movimentos assentes em discursos de moralidade e em promessas de renovação acabam, não raras vezes, por degenerar em estruturas que instrumentalizam o poder como veículo de autopromoção. E não se trata apenas de escândalos estrondosos que ocupam manchetes: práticas aparentemente discretas, como a utilização de fundos públicos para financiar materiais laudatórios aos detentores do poder, contribuem decisivamente para corroer a confiança dos cidadãos nas instituições e perpetuar a percepção de que a política serve, antes de mais, para alimentar privilégios.Reforço que este padrão, lamentavelmente, não se circunscreve a casos isolados ou autocráticos – emerge, de forma reiterada, em democracias maduras, continentais, nacionais ou locais. Caro leitor, nem tudo é mau: preto no branco, são confirmados os perigos da conjugação entre acesso facilitado a recursos, fiscalização incipiente e culturas políticas permissivas. A hipocrisia política — essa clivagem entre retóricas redentoras e práticas clientelares — transforma-se, assim, em estratégia para galvanizar eleitores fatigados com a rotina do poder. Contudo, uma vez consolidada a posição, as promessas de mudança são...
Muitos políticos que, antes de alcançarem o poder, proclamam com veemência a recusa de recorrer a recursos públicos para benefício próprio acabam, uma vez investidos em cargos de autoridade, por ceder à tentação que outrora condenaram. Longe de constituir mera exceção, este desvio do bem comum em favor de interesses particulares manifesta-se com frequência desconcertante. Atravessa partidos, geografias e sistemas; revela as vulnerabilidades inerentes à natureza humana.A História e a literatura atestam que movimentos assentes em discursos de moralidade e em promessas de renovação acabam, não raras vezes, por degenerar em estruturas que instrumentalizam o poder como veículo de autopromoção. E não se trata apenas de escândalos estrondosos que ocupam manchetes: práticas aparentemente discretas, como a utilização de fundos públicos para financiar materiais laudatórios aos detentores do poder, contribuem decisivamente para corroer a confiança dos...
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Autor: Jornal da Mealhada
