Sexta-feira, 10 de Outubro de 2025 às 09:45

Nem todas as ideias são inteligência, nem todos os sorrisos são alegria!

Nem todas as ideias são inteligência, nem todos os sorrisos são alegria!

Opinião

Nem todas as ideias são inteligência, nem todos os sorrisos são alegria!

Há sorrisos que cintilam como espelhos, mas não refletem verdade alguma.

Há palavras que brilham como relâmpagos, mas não iluminam nada. Há sorrisos que cintilam como espelhos, mas não refletem verdade alguma. O nosso tempo, cheio de vozes e de rostos expostos, parece viver, cada vez mais intensamente, da superficialidade: ideias repetidas como slogans, gargalhadas partilhadas como mercadorias, gestos programados para caberem em segundos de atenção. E, no entanto, por baixo desta «espuma», permanecem perguntas antigas: o que é, de facto, a inteligência? O que é, de facto, a alegria?
As ideias brotam de todos os lados: tweets apressados, opiniões que se sucedem em programas televisivos, certezas instantâneas embaladas por algoritmos. Mas a abundância de ideias não significa a presença da inteligência. Uma ideia pode nascer do impulso, da raiva ou do preconceito. Pode ser só um reflexo do desejo de aparecer, de vencer uma discussão, de marcar território, num mundo que mede o valor de tudo, em «gostos» e «partilhas» das redes sociais.
A inteligência, pelo contrário, é paciente. Demora-se na escuta, atravessa o silêncio, suporta a dúvida. Não se impõe pelo grito, mas pela profundidade. É como a água subterrânea que, aos poucos, vai encontrando saída. E porque é humilde, não teme mudar de rumo. Se a ideia é o clarão, a inteligência é a luz que permanece depois da tempestade.
O sorriso é talvez a mais universal das «máscaras» humanas. Carrega algo de belo, porque aproxima, abre portas, cria laços. Mas também carrega algo de ambíguo: pode esconder a dor mais profunda ou até disfarçar a hostilidade. Há quem sorria para agradar, para sobreviver, para se proteger. Há quem sorria no meio da multidão e volte para casa carregando um coração despedaçado.
A alegria, essa sim, é mais difícil de encenar. Não se mede pela curva dos lábios, mas pela paz que se sente no olhar, pelo calor que se transmite nos gestos. É presença silenciosa, que não precisa de espetáculo. Enquanto o sorriso pode ser máscara, a alegria é raiz. E raízes não se fabricam: ou crescem do encontro com a vida, ou murcham.
Vivemos rodeados por fachadas. Ideias transformadas em frases de efeito; sorrisos transformados em performance social. Confundimos expressão com essência, forma com conteúdo. E, assim, perdemos a capacidade de reconhecer a dor escondida nos outros e a ignorância disfarçada de opinião firme.
O perigo é coletivo, quando ideias frágeis se fazem passar por inteligência, as sociedades escolhem caminhos de engano. Quando sorrisos ocos se fazem passar por alegria, normaliza-se a indiferença perante o sofrimento. A vida humana não pode ser lida pela pressa de quem só olha o visível. É preciso aprender a ver com olhos mais profundos, olhos que pressentem a densidade do invisível.
O ser humano é sempre mais do que o que mostra. Somos feitos de camadas: o gesto que aparece e o silêncio que se esconde, a palavra que se pronuncia e a dúvida que se cala. Entender isto é entrar numa antropologia da profundidade, que não se satisfaz com a «espuma». É reconhecer que a inteligência nasce do encontro entre a razão e a humildade, e que a alegria nasce do encontro entre a verdade e a esperança.
Nem todas as ideias são inteligência: muitas são só ruído. Nem todos os sorrisos são alegria: muitos são apenas véus. Mas, se ousarmos atravessar esses véus, talvez encontremos o que sustenta a vida: a sabedoria que não precisa de gritar, e a alegria que não precisa de fingir.

Já agora, estou convencido que o mundo não carece de mais ideias apressadas, mas de pensamentos que floresçam do diálogo. Não carece de sorrisos ensaiados, mas de alegrias que crescem da comunhão. A urgência é aprender a olhar para além da superfície, a dar tempo ao que não se mostra logo, a cuidar daquilo que parece invisível. Porque a verdadeira inteligência não se prova em frases, mas em vidas que constroem. E a verdadeira alegria não se mede em fotos, mas em encontros que permanecem, porque puros e verdadeiros.

Padre Rodolfo Leite

Autor: Padre Rodolfo Leite

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