Domingo, 06 de Julho de 2025

Ser o maior dos mais pequenos ou o mais pequeno dos maiores?

Ser o maior dos mais pequenos ou o mais pequeno dos maiores?

Opinião

Ser o maior dos mais pequenos ou o mais pequeno dos maiores?

A pequenez do pensamento humano faz com que tenhamos pavor da nossa animalidade.

A pequenez do pensamento humano faz com que tenhamos pavor da nossa animalidade. Consideramo-nos superiores a todos os outros animais. No entanto, é a animalidade que em nós reside, quem mais contribui para a nossa grandeza. Sem animalidade nem comparação seria possível para se poder pensar em ser humano.

Os mais radicais, na tentativa de erradicarem, de si, a possibilidade de terem evoluído de formas de vida mais simples, não se importam de abdicar da racionalidade científica para a negarem e partem para o criacionismo. Tudo menos serem descendentes de algo que não conhecem ou que possa ser uma mistura. Serem filhos de Adão e Eva não atesta a sua pureza “racial”. Não sei quem estragou a raça. Poderia pensar que foram as noras de Noé. Tal como consta dos escritos, Noé entrou na arca com a sua esposa, os seus três filhos e as suas noras. Penso que todos eles descendentes de Adão e Eva. Noé era puro e bom, os seus três filhos também seriam puros e bons (de outra forma teriam ido com o dilúvio, pela sanita dos tempos). Será que alguma das noras representa a impureza, que os homens chocados com o discurso de Lídia Jorge (no pretérito dez de Junho) consideram uma traição à existência de uma “raça” Portuguesa? Será que alguma dessas noras é filha da serpente? Assim sendo, o veneno de certas ideias pode estar, finalmente, explicado.

Mas, meus caros puristas da raça. Raça de filhos de Adão e de Eva. Homens capazes de negar vossa própria mãe. A esta mistura não escapais. Qual será a razão pura que tão impura faz vossa pureza?

É estranho que os mais puristas da raça sejam, também, os mais conservadores de princípios religiosos e, muitos deles, de valores católicos e cristãos. São absolutamente intransigentes a considerar que alguém com a pele escura seja inferior a outro humano, mas sentem-se proibidos de praticar o aborto sob um feto ou um embrião que poucas características (às vezes mesmo genéticas) possua, da sua “raça”. É estranho. Para alguns racistas, o filho negro de outro humano pode ser exterminado, mas o ser, por si gerado, com alterações genéticas, é um ser humano puro como eles próprios. E o ser humano, com alterações genéticas, filho de um outro casal de pureza genética igual à deles? Pode ser exterminado? É inferior, pode conviver com o vosso? Que “pura” de confusão!

Estas são interrogações que me coloco e que me colocam em níveis perigosos para a pureza de pensamento desta “raça” de filhos de Eva e da serpente venenosa. É violento, para eles, pensar e é violento que os outros pensem. Daí que resolvem tudo à pancadaria.

Confesso que tenho medo desta “raça”, puramente violenta, onde a única evidência remanescente, da animalidade que negam, é a lei do mais forte. Para esclarecer, é a mesma lei que leva fêmeas a escolherem o macho com melhores características genéticas para sobreviver à violência dos elementos e das outras espécies, para melhor lutar pelo alimento, pelo território e pelo abrigo. Podemos continuar nessa lógica simplista e redutora? Podemos. Mas, talvez, muitos dos que reduzem a sua existência a essa lógica, não a contem por muito tempo…

Uma coisa me parece evidente: ou são filhos de Adão e Eva, onde algo se estragou, ou são alvo de um qualquer outro criacionismo estranho que os deixa sempre insatisfeitos (porque isso não os faz abandonar o hábito de serem violentos entre si), ou são naturalmente filhos de uma teoria Darwinista, evolutiva. Em qualquer dos casos, física e geneticamente, parecem ter evoluído, mas, racionalmente, estão ao nível do macaco mais rude, menos hábil e tacanho. Talvez um cruzamento impuro de galinha com ameba. Uma mistura de serpente, maçã e muita parra “pouca uva”.

P.S. – mesmo que assim seja, descontando a periculosidade dessa espécie, sou forçado a considera-los tão humanos quanto o mais débil, doente ou mal gerado dos filhos dos outros humanos. No meu conceito de humanidade, mesmo esta “raça” de puros de pureza racional duvidosa, ainda podem ser humanos. Mas eu sei que isso não lhes interessa nada, eu sei.

Bigorna (XV6025VI)

Autor: Jornal da Mealhada

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