A REVOLTA DOS BIBES AMARELOS
Dizem que eram para aí uns quarenta mil. Tal como em dezanove vinte e seis, terão partido de Braga em […]
Dizem que eram para aí uns quarenta mil. Tal como em dezanove vinte e seis, terão partido de Braga em comboio especial a que se juntaram autocarros e outros meios de transporte e marcharam ruidosamente pelas ruas de Lisboa até ao Parlamento.
Tudo de bibe amarelo! Miúdos, graúdos, avós, pais, filhos, padres e sacristãos, chefes e chefões, deputados da direita alaranjada e amarelada Cartazes e mais cartazes; dísticos e mais dísticos, vozes e mais vozes gritando as bandeiras do movimento: um festival!
Professores, também! Intimidados, pois claro! Não propriamente com o espectro da perda do emprego resultante da prevista diminuição de turmas, mas pela ameaça constante que paira sobre a extrema precaridade do seu vínculo laboral!
Liberdade de escolha, Qualidade do Ensino, Os contratos são para se cumprir e as vozes inflamadas dos oradores de serviço debitavam a doutrina da campanha.
Para o leigo e o mal informado nestes estranhos e complicados labirintos da educação, é mister que se desmontem os obscuros propósitos dos cérebros da cruzada.
Liberdade de escolha é o que toda a gente tem em relação à educação dos seus filhos. A escola pública financiada pelo estado e o ensino privado a ser custeado por todos quantos por ele optarem. Só em situações especiais em que a escola pública não está territorialmente capacitada, o estado acorda com o ensino privado existente as contrapartidas financeiras que permitem a estes a resposta educativa necessária.
O problema é que os governos têm transigido em escandalosas situações de promiscuidade, deixando sedimentar a errónea e abusiva a ideia dum direito tacitamente adquirido segundo o qual os colégios tinham o caminho livre para formarem as turmas que quisessem em aberta concorrência com a escola pública. E, aos milhões, e sem a necessária fiscalização, estes subsídios constituíam apetitoso maná que despertou cobiças e potenciou golpadas. Os institutos educativos ter-se-ão tornado, por assim dizer, em requintadas estratégias de enriquecimento ilícito.
Não serão os alunos e famílias, muito menos, os professores os grandes prejudicados demagogicamente apresentados como vítimas pela direita e pelo clero comprometido, mas todos aqueles que, nas confusas costuras da lei, procuram indevidos proventos.
Ensino de qualidade é o que o sistema deve proporcionar aos educandos, especialmente através da promoção da escola pública e maior fiscalização das privadas. O ensino de qualidade tem de ser inclusivo, isto é, aberto a todos e jamais apenas às elites. Ora o que se passa, é que, mesmo auferindo subsídios do estado, o ensino privado, por uma questão de natureza comercial e não só, é exclusivista, classista e faz do professor não um educador em toda a extensão do conceito, mas um mero operador por objectivos sujeito a múltiplas pressões e, quantas vezes, a torpes humilhações.
O actual governo, ao pretender acabar com as situações dúbias e obscuras, conflitua, e de que maneira, com espúrios interesses instalados e concita a animosidade de gente poderosa e pouco escrupulosa a qual foi medrando à sombra dos partidos que nos últimos trinta anos têm sido poder.
Esta revolta dos bibes amarelos é um profissionalíssimo e dispendioso exercício comunicacional e, ao mesmo tempo, uma asquerosa instrumentalização dos alunos e das suas famílias com a bênção de importantes sectores da Igreja católica e o descarado apoio dos partidos da direita.
De facto, a presença de deputados do CDS e do PSD na manifestação e as disparatadas declarações que fizeram são a cereja sobre este amarelado e nauseabundo pastel!
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Opinião de Renato Macedo de Ávila
Autor: Jornal da Mealhada
