Alfredo Santos falou às crianças no Dia Mundial do Braille
Biblioteca Municipal da Mealhada assinalou data com o testemunho do mealhadende “Alfredo Cego” Os alunos de duas turmas do quarto […]
Biblioteca Municipal da Mealhada assinalou data com o testemunho do mealhadende “Alfredo Cego”
Os alunos de duas turmas do quarto ano da Escola Básica do 1.º Ciclo da Mealhada participaram na palestra e testemunho de Alfredo Santos, sernadelense e funcionário da Câmara Municipal da Mealhada – onde desempenha as tarefas de telefonista – e, ainda, músico reconhecido no concelho e na região. Foi com o testemunho de Alfredo que a Biblioteca Municipal da Mealhada assinalou, na manhã de 4 de janeiro, o Dia Mundial do Braille.
O desafio lançado aos alunos do 4º ano da EB1 da Mealhada seria relativamente simples: refletir sobre como será aquilo que nos rodeia para quem não vê. A ajuda de Alfredo Santos para isso seria, então, fundamental. Alfredo tem 50 anos e nasceu invisual. Aprendeu a ler Braille com seis anos, em Lisboa, num colégio especializado e ganhou com isso e com todas as outrras aprendizagens a viver em autonomia e independência.
Bom conversador, Alfredo falou às crianças da sua vida pessoal e profissional, do seu quotidiano, dos seus gostos e hobbies, e leu mesmo excertos da obra O Livro Negro das Cores, em Braille, tendo, depois, respondindo a dúvidas e curiosidades colocadas pelas crianças.
Desde a maneira como reconhece as pessoas, à forma como combina as cores da roupa que veste ou até como distingue o dinheiro, Alfredo Santos respondeu às interrogações mais simples ou mesmo às mais inesperadas e, ainda, quebrou alguns mitos. Se há quem pense que os cegos conhecem tudo mesmo sem ver, por supostamente terem os sentidos mais apurados, desengane-se. De acordo com o funcionário da Câmara isso não é verdade. Este afirma que não se conhece uma pessoa só pela forma de andar, pelo toque, ou pela voz. Segundo Alfredo Santos, obviamente existem dificuldades. Claro está que, após algum convívio, essa capacidade se aprimora. Decoro por conviver afirma , e diz que se habitua, por exemplo, à sonoridade da voz.
O convidado escolhido pela Biblioteca para assinalar o Dia Mundial do Braille garante que o facto de nunca ter visto não custa nada e que se habituou a viver sem ver, adaptando-se facilmente. É uma questão de ambiente, conta. De acordo com o Alfredo Santos, o segredo está no ajustamento ao meio onde se está integrado. É o ambiente em que vivemos que nos faz ser mais desenvolvidos e perspicazes, diz. O funcionário da autarquia que vive na Mealhada desde os 14 anos de idade afirma que, a nível de integração, se sente realizado. Sinto-me integrado e gosto muito da minha terra!, frisa.
Telefonista de profissão, gosta de comunicar e, apesar de gostar de sentir o cheiro do mar e da natureza, de fazer associações através do olfacto e de não se preocupar muito com o subjectivo e com o visível, adora estar perto de quem lhe explique o mundo que o envolve. Assim, mesmo levando uma vida normal e encarando a sua condição com naturalidade, não deixa de se rodear de pessoas que vêem.
Alfredo Santos que aprendeu a ler com os dedos terminou a sua retórica com ousadia: Antes quero não ver, do que não ter um dedo. Quero os meus dedos, falar, andar e diz bem resolvido: Nasci sem ver. Nada de drama, nada de tristeza!. O convidado que demonstra reger-se pela aceitação e pelo amor-próprio, fez questão de deixar uma lição de vida aos mais novos: Tentem gostar de vós próprios primeiro. Assim é mais fácil gostar dos outros.
Jornal da MEalhada/CMM
Autor: Jornal da Mealhada
