Carta aos Jovens
Amigo: O jovem é facilmente levado à contestação. Quer coisas novas num mundo novo. Dificilmente se adapta a sistemas traçados […]
Amigo:
O jovem é facilmente levado à contestação. Quer coisas novas num mundo novo. Dificilmente se adapta a sistemas traçados por outros. Os defeitos da nossa sociedade (o egoísmo, a hipocrisia, a exploração do fraco pelo forte, o hedonismo…) avivam ainda mais nele a tendência para a revolta e o inconformismo.
Esta tendência tem de ser orientada para não resvalar para o desespero para a negação de todos os valores tradicionais, como se o mundo fosse irrecuperável. É mais fácil condenar do que remediar, demolir do que construir, dizer mal do que fazer bem. Mais fácil porque se acomoda às tendências egoístas de que ninguém está isento.
Os defeitos não se curam com denunciá-los somente. Há muitas pessoas a denunciar e poucas a remediar. Muitos jornais sofrem do mesmo defeito. Sempre prontos a apontar os defeitos dos outros e não reparam na sua própria duplicidade. Assim, por exemplo, ao lado dum anúncio de cigarros aliciando o comprador, vemos outro a oferecer os seus serviços para desintoxicar os fumadores. Numa página lemos a notícia de roubos, assaltos, etc., e na outra o reclamo de filmes em que os autores de tais aventuras aparecem impunes e até como heróis…
É esta hipocrisia que todos, jovens e adultos, deviam saber denunciar com uma atitude construtiva, negando-se a alimentar com o seu dinheiro os ambientes onde tudo isto se vive. Está aqui um ponto fraco de muitos jovens. Gritam contra a hipocrisia e deixam-se embalar nos seus braços. Reclamam autodeterminação e deixam -se manobrar. Querem construir um mundo novo com coisas novas e são vítimas dum mundo velho cheio de coisas velhas: hipocrisia, hedonismo, desespero…
Bom jovem: O mundo novo que todos desejamos não se constrói com diatribes azedas e revoltas desgovernadas. Constrói-se no amor autêntico, que leva a procurar o bem dos outros à custa do próprio sacrifício. Segue este caminho e serás feliz. Se desejas alguma orientação, mormente vocacional, escreve-me para: Hospital Infantil Montemor-o-Novo. O amigo de sempre.
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NUNO FILIPE em JORNAL “SOL DA BAIRRADA” de 26 de Janeiro de 1974.
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Enviado ao Jornal da Mealhada por Artur Lousado
Autor: Jornal da Mealhada
