O virar do casaco
Nas andanças da vida e nos meandros da política, a versatilidade entra no uso constante do comportamento humano, levando-nos a […]
Nas andanças da vida e nos meandros da política, a versatilidade entra no uso constante do comportamento humano, levando-nos a aceitar que a história é uma sucessão de factos, que se repetem a todo o momento. A fidelidade de Martim de Feitas, diz Alexandre Herculano, é o símbolo dos homens que, na queda de Sancho, souberam respeitar o pundonor do cavaleiro e a religião do juramento. O mesmo aconteceu com Egas Moniz, confrontado com o cerco a Guimarães, e com a falta de palavra de D. Afonso Henriques, que se recusou ao cumprimento da menagem exigida por Afonso VII de Leão. São atitudes que nos mostram a todo o momento a vulnerabilidade de uns e a coragem de outros, sempre que está em causa a honra pelo compromisso assumido. Já o Padre António Vieira, perante o que verificava no seu tempo, comentou: Os filhos e os netos perderam a honra que os pais e os avós tinham ganhado com sangue. Judas Iscariotes vendeu Jesus Cristo por trinta dinheiros e Pedro, chefe dos apóstolos, naquele momento trágico negou o seu Mestre por três vezes. Perante este comportamento da sociedade que o tempo não apagou, julgo oportuno transcrever a crónica titulada por O VIRAR DO CASACO, que publiquei no DIÁRIO DE COIMBRA em 15 de Janeiro de 1985:
Encontrámos o amigo na Rua da Sofia, com um sobretudo que parecia novo. Influenciados, ainda, pela quada natalícia, perguntámos, brincando, se aquele sobretudo tinha sido a prenda do Menino Jesus O nosso amigo riu-se, um riso só por ser riso como as saudações que diariamente fazemos na rua ou pelo telefone (que tal vai isso, que dizem elas, etc.) e esclareceu: Este sobretudo não é novo. Foi virado e mesmo assim não deixou de custar dois contos e quinhentos.
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Aníbal Duarte de Almeida
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Texto de opinião completo na edição impressa do JM de 20 de março de 2013.
Autor: Jornal da Mealhada
