Torres celebrou o bunho, o junco – tradições com memória
Nos dias 3, 4 e 5 de outubro, a aldeia de Torres, freguesia de Vilarinho do Bairro, voltou a encher-se de vida com a Festa do Bunho e do Junco
Nos dias 3, 4 e 5 de outubro, a aldeia de Torres, freguesia de Vilarinho do Bairro (Anadia), voltou a encher-se de vida com a Festa do Bunho e do Junco — um evento que honra o saber ancestral ligado ao trabalho artesanal destas plantas aquáticas, celebrando também as gentes e tradições locais.
Bunho e junco crescem em zonas húmidas como a lagoa de Torres e, após secagem ao sol, os seus caules são usados, por exemplo, para criar esteiras, cestos, tapetes, assentos de cadeiras e outros objetos do quotidiano. Sustentáveis e resistentes, fizeram parte da vida rural – do vestuário à construção – durante gerações. A festa pretende precisamente isso: manter viva essa herança, passando o conhecimento de geração em geração, através da prática e da partilha.
Três dias de cultura, arte e comunidade Entre o Recinto da Festa (na adega do Avelar) e as ruas da aldeia, não faltaram motivos para sair de casa. O programa inclui: instalações e expressão plástica, exposição de bicicletas antigas e móveis recuperados, atelier de cerâmica, vendas e demonstração de artesanato variado – onde a arte do bunho e do junco foi rainha – degustações com momentos dedicados à gastronomia local, e uma animada quermesse,
com magníficos prémios e gerida por um simpático casal holandês que escolheu Torres para viver e participar ativamente na vida da aldeia.
A componente musical teve grande destaque ao longo do fim de semana: Carolina Pessoa e o grupo Une Samba, na sexta-feira, Grupo Como ADABEM, no sábado e no domingo desde bem cedo o grupo de gaiteiros Os Katembas marcaram o compasso das atividades mais tradicionais.
O último dia da festa foi especialmente dinâmico. Logo pela manhã, a aldeia foi invadida por um ambiente nostálgico com o passeio de bicicletas antigas, com os participantes vestidos ao estilo dos anos 60 e orientados por NunoZamaro Mobility. O percurso levou os ciclistas pelas ruas da aldeia, passando pela lagoa e pelos vinhedos, para onde está projetada o futuro miradouro, uma iniciativa da associação local.
Depois do almoço regional — sempre com música e animação — teve lugar o esperado cortejo cultural, que partiu do início da aldeia e terminou no largo da igreja. Desfilou por entre várias marafonas, construídas pelos próprios habitantes e colocadas frente às fachadas das casas para embelezar as as ruas da aldeia – um gesto simbólico, mas poderoso, que reforça o espírito comunitário e a ligação à tradição.
Participaram os Katembas, populares trajados à época, entidades convidadas e o Grupo Folclórico de Ventosa do Bairro, que no final encheu o largo de muita cor, tradição, dança e alegria. Depois todos se dirigiram para o Largo da Festa, onde em comunidade celebraram até ao anoitecer.
A Festa do Bunho e do Junco provou, mais uma vez com o empenho e dedicação da sua Associação Recuperar a Aldeia de Torres e dos populares, que o passado pode ser celebrado com criatividade, emoção e sentido de comunidade. Torres é uma das Aldeias de Portugal, pequena, mas com muita história e com um coração grande — onde a tradição vive, respira e se reinventa, agradável para viver, acolhedora e aberta a quem chega.
Texto e foto: Fernando Simões
Autor: Fernando Simões
